domingo, 6 de fevereiro de 2011


A Praça Histórica


"Na praça Barão de Queluz, local histórico onde ocorreram os combates da Revolução Liberal de 1842, fica a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a Casa Paroquial e, ficava, também, a casa de número 5, depois 91, a última onde residiu Romeu Guimarães de Albuquerque.
Além dos inúmeros parentes da cidade, para nossa casa, acorriam amigos de Congonhas (Capitão Pacífico Homem e seus filhos José Modesto, José Gualberto Homem, Raymundo Homem, o Dr. Pedro Bernardo Guimarães, a família Freitas de José Arigó e outras...)
Foi por intermédio do Capitão Pacífico Homem que o Padre João Pio comprou uma máquina tipográfica de meu pai, Romeu, em 9 de maio de 1912 por 1:500$000, sendo ela transportada pelo tipógrafo Caraciolli.
Parentes de Miracema passavam temporadas conosco: Júlia Leite de Albuquerque, gente de Arcos, de Juiz de Fora, de Barbacena...
Antes de se dirigirem à Matriz de Nossa Senhora da Conceição – que ficava defronte à casa de meu pai – outras pessoas vinham de Rancho Novo, Carreiras, Franças, Canavial, Joaquim Moreira, não como hóspedes, mas como participantes de cerimônias religiosas e dos preparativos dos casamentos.
Ao fim das cerimônias, voltavam ao pé do grande e majestoso abacateiro e alí montavam a cavalo e seguiam em trote, andadura ou galope, para seus lugares de origem.
Quando do meu nascimento em 1916, tínhamos como vigário o Padre Américo Adolpho de Campos Tait-Son até o dia 12 de março de 1927, quando faleceu e foi substituído por José de Oliveira Barreto: o Padre Barreto.
Nestes tempos de festas, para sairmos de casa, tínhamos que pedir licença aos devotos que se juntavam à porta da rua e ocupavam, inteiramente, toda a praça...
Foto gentilmente cedida do acervo de Niélcie (neta de Romeu)
Ao tempo do Padre Américo, tudo era devoção.
Ainda cantava-se o “Bendito Louvado Seja” pela madrugada, ao soar do bronze do grande sino que não incomodava a ninguém...



População Antiga de Queluz


Não se pode generalizar, mas a população mais antiga do município discriminava as demais crenças. Protestantes e judeus eram considerados inimigos de Cristo, os espíritas tinham parte com o demônio e os ateus eram homens sem alma, salvo honrosas exceções.
Eram mais considerados os sírios e libaneses (que não se consideravam turcos, assim justificando-se. Educados e habilidosos, comerciantes, quase sempre, tinham seu “quê” de fenícios. Não foram estes que propagaram a idéia dos monstros marinhos - para os outros?)
Os homens eram, alguns, boêmios, violonistas e sentimentais. Estendiam-se por toda parte, apreciados e admirados pelo povo mais simples da cidade. As valsas não mais escandalizavam. Eram apreciados também os cavaquinhos, flautas e até a ocarina (instrumento de barro).
O vigário Padre Américo Adolpho de Campos Tait’Son, saía de sua residência, próxima à Santa Casa, em direção à Matriz de Nossa Senhora da Conceição, à Praça Barão de Queluz, onde ficava a casa de meus pais.
Às vezes, duas loucas: “Bororó” e Salvina, costumavam importuná-lo. Ao verem soldados, acorriam para a casa de minha mãe, à praça mencionada e só a ela obedeciam, a quem visitavam constantemente. Os policias também não as importunavam.
Os juizes de paz educavam a população e apaziguavam a todos.
Graças à Deus, a fé em Jesus e São José era silenciosa. Não havia alto-falantes – somente o sino soava no momento adequado.
O som, ouvido a duas léguas, era muito bem tolerado, assim como a ladainha pela madrugada.
Houve tempo em que soava o sino, a banda tocava ao mesmo tempo, o alto-falante funcionava e o vigário pregava, além dos foguetes...
Quando algum forasteiro chegava para ficar, perguntavam: “Ele vai à missa?”...
Certa vez, o badalo do sino desprendeu-se lá de cima, caindo na terra à frente da Matriz. Felizmente, ninguém estava por perto.
Vovó Marianna era venerada pela sua nora Adélia, minha mãe, mesmo depois de falecida e de quem tinha premonições (ou precognições, como diz o padre Quevedo).
Era considerável a grande devoção a São José, santo a quem Adélia sempre recorreu.
Vovó Marianna praticava a hidroterapia (sistema Kneipp) e recorria ao “Chernoviz” (um repositório de plantas da flora brasileira da época) e também ao formulário (outro volume).

“ O grande benemérito da humanidade sofredora.
Com muita razão merece este título o grande padre católico monsenhor Kneipp, pároco de Woerishofen, na Baviera, que atrae hoje a atenção de uma grande parte do mundo. Começou ele sendo humilde tecelão, na Suábia. Com muitas economias e a custo poude estudar para realizar a sua vocação eclesiástica, mas quando esteve para satisfazer o seu maior desejo e tomar a segunda ordem de presbítero (cura por meio de água) e aplicando a si mesmo, curou-se, adaptando ao seu caso e aperfeiçoando o processo, instituiu o seu “SISTEMA KNEIPP”.
A União – Orgão Republicano, Industrial e Literário
Redactor Chefe Policeno Moreira Maia
Cidade de Campo Belo (Minas)
22/08/1895 – nº 34

E os caricaturistas – ou cartunistas – ou chargistas? Raul Pederneiras, Borjalo...

Iantock dizia: “Lá nas hiperbólicas paragens endêmicas há um hidrópico tesouro.”
Pensávamos que ia abandonar a sua profissão para minerar...
E os aviadores? Sacadura Cabral, Gago Coutinho, o Jahu (avião) de Ribeiro de Barros, Lindeberg.
Os boxeadores: Jack Dempsey, Gene Tunney, a vítima Érnie Shaf, Joe Louis, Luiz Angel Firpo, Primo Carnera que disse: “Depois de um bom prato de macarrão, não temo a ninguém.” Foi derrotado. E uma inesperada derrota, em 1926, de Dempsey por Gene Túnney...
Numerosos “Baêtas”, vindos de vários pontos-fazendas do município, enchiam nossa casa da Praça Barão de Queluz, ponto de encontro.
Lá se reuniam Pequita e Benedicto Barbosa – Thompson ou “Tonzinho”; “Zildinha” e seu namorado, o “Argentino”, a de Lourdes, Zezézinha, Quinote (político em Itaverava), Lausane, Antonita e seus pais, Bernardo Bernulpho Baêta Neves e Honorina (Norica), Lolita, Melita, Geraldo Carreira, Luiz, Netinha.
O Joaquinzinho, figura importante do “Chuta-Vento Futebol Clube”, era tipógrafo e no jornal descrevia as partidas do jogo, terminando sempre: “... e Baêta corta...” pois era sempre ele a cortar a jogada...
Seguindo para os lados dos “Furtados”, atravessando a casa que chamávamos “do Quincas Lourenço”, conhecemos a Neizinha, Zilda, Zozola e Lalá, esta namorava o Dr. Zezé na sua Baratinha (carro).
Seguindo, vinha a família do Asdrúbal do Nascimento Sobrinho e dona Elvira (o Dudu Nascimento), pais do Alfredinho, e o grande pé de jaca.
Meu irmão Délvio, certa vez, recebeu de presente do Alfredinho um par de meias, mandou tingí-lo e deu-lhe de volta como presente de aniversário...
Os Baêtas ainda se estendiam pela antiga rua Direita, subindo para o Santo Antônio.
Dona Olga morou na rua Afonso Pena, em prédio alto, próximo ao Biu (Argemiro de Albuquerque), do cartório, que passou depois para a sua irmã, Irene de Albuquerque.
Sr “Lalão” – Alexandrino Cândido de Queiroz – D. Maricas de Queiroz, viúva de Alexandrino (Lalão), faleceu com 59 anos, em 05 de agosto de 1941, deixando os seguintes filhos: Eulália, Egar (nos meios futebolísticos, o “galo véio”) e o Elpídio de Queiroz (“Peixinho”), que, na Chapada, caminho do Morro da Mina, foi proprietário de uma importante oficina de ferreiro, antes pertencente ao senhor Norberto Rocha.
Lembro-me muito da “D. Maricas dos Doces”, da qual era freguês e das suas brôas de amendoim e canudos, substituída pelo Alvim.
O taboleiro de madeira era grande e tinha grande variedade de quitandas (em Queluz, quitanda não era sinônimo de verdura, mas de doces...).


O Futebol

A casa em que morava o senhor Avelino Lana, casado com minha tia Olímpia, que ficava situada na rua dos Barrancos (Barão de Suaçuí), era uma casa modesta com um bom quintal cheio de frutas.

Em um dos quartos guardava-se todos os apetrechos necessários ao Queluziano Foot-Ball Club (assim se escrevia), pois foi, por uns tempos, o tio Avelino, o zelador do clube.
Utilizava-se a bola nº 5, com seus gomos de couro, que continham a câmara de ar de borracha com bico saliente, no qual se colocava o bico da bomba que a enchia, amarrando-se depois e dobrando-o para dentro do couro.
Passava-se um cordão pelos vários furos até fechá-la completamente.
Havia várias delas e várias camisas de listas brancas e pretas.
E nós, primos-sobrinhos, encantados com aquele quarto repleto de novidades...
Atravessando a rua para o lado oposto, o vasto campo, maior do que o comum, tendo o pasto da Fontinha ao lado cujo caminho descendente levava à dita fonte pequenina. Lá embaixo, as lavadeiras trabalhavam.
Do lado de um dos “goals” viam-se as árvores do pomar da família de tio Domiciano Noronha, que depois mudou-se de lá.
No lado do outro “goal”, estava o quintal e casa de Augusto Dias de Souza e família. Em dia de jogo a meninada seguia os seus ídolos do esporte bretão.
O “Pelado” barreira intransponível, o Olimpinho que, da extrema direita, avançava velozmente, em direção ao “goal” adversário; O Vassourinha, conforme diz o nome, varria o adversário qual o “Garrincha” da época. O Pedro Arges, de Congonhas...
Devo arriscar mais alguns nomes (peço que me corrijam se errar): Belisário, José Guimarães, Mário de Oliveria de Santana, o Paulo Rodrigues – dentista, João Perdigão, Jangada, Cahito, Antônio Bandeira, Pituca, Balinho, Nadinho, Iveraldo, Alemão, Zé Broinha, Zé Pio, Romeuzinho, Helmar (Marreta), o Laporte - goleiro do Queluziano - que fazia defesas imediatas, seguidas. O profissional de quem esperávamos grande futuro: o Carlitos e seu irmão Cid Guerra que brilharam com o Madeira e outros no “Chuta-Vento Footbal Club” que derrotou o Santanense.Depois tivemos o Fogosa, o Nublina e o Tião.
Em 1942, derrotaram o Cruzeiro de Belo Horizonte por 3x2, já com o nome de Meridional Esporte Clube.
Não podemos esquecer do famoso Aldomar Baêta, o goleiro da mão grande!


O Livro




Na data comemorativa do centenário de nascimento de meu pai (1978) seus filhos editaram o seu livro “Apontamentos para a História da Cidade de Conselheiro Lafaiete (antiga Queluz de Minas)” que teve boa aceitação do povo daquela cidade.
Penso que deixamos escapar pequenas falhas, em razão do conteúdo de suas 80 páginas, e que foram:
Na página 9: Lê-se Amaro Ribeiro Serra e não Amaro Ribeiro Sena.
Onde consta João Lopes Teixeira Brandão, leia-se: João Lopes Teixeira Franco (pg 15, pg 18, pg 23, pg 61).
Onde consta Pe. José Vieira de Souza Ramos, leia-se: José Vieira de Souza Barros, pág. 70.
Onde consta Itaperava, leia-se Itaverava, pág 30.
Onde consta Nota à parte da página 67, transfira-se para o rodapé da página 63. "

Trecho do livro:
"Romeu Guimarães de Albuquerque e Queluz de Minas"
Fúlvio de Almeida Guimarães - Edição do Autor - 2010